sábado, 11 de abril de 2015

A PERSONOLOGIA DE MURRAY


PERSONOLOGIA – É a teoria elaborada pelo psicólogo norte-americano Henry Murray (1893-1988) numa abordagem que inclui forças conscientes e inconscientes; a influência do passado, presente e futuro e o impacto dos fatores fisiológicos e sociológicos. Ele se desviou tanto da psicanalise ortodoxa que o seu sistema deve ser classificado junto aos neofreudianos. Duas caraterísticas distintas do seu sistema são uma abordagem sofisticada das necessidades humanas e a fonte de dados na qual ele baseou a sua teoria. A lista de necessidades que propôs ainda é amplamente utilizada na pesquisa e avaliação da personalidade e no tratamento clinico. Seus dados são oriundos de pessoas consideradas normais e não de pacientes que estavam fazendo psicoterapia, além de serem extraídos de procedimentos laboratoriais de base mais empírica e não de estudos de caso. Ele reuniu uma grande quantidade de psicólogos, muitos dos quais ficaram famosos e difundiram os seus ensinamentos.
Para ele, a personalidade, na questão entre o livre-arbítrio e o determinismo, é determinada pelas necessidades e pelo ambientem conferindo um certo livre-arbítrio na capacidade de mudar e crescer. Cada pessoa é diferente, mas também existem semelhanças na personalidade de todas as pessoas.
As pessoas são moldadas pelos atributos herdados e pelo ambiente, cada um dos dois com mais ou menos o mesmo grau de influência.
Murray criticou a psicologia que projetasse uma imagem negativa e humilhante dos seres humanos e argumentava que, com os vastos poderes de criar, imaginar e raciocinar, todas as pessoas são capazes de solucionar qualquer problema. Também reconhecia a marca das experiências da infância no comportamento atual, não vendo as pessoas como cativas do passado. Os complexos da infância afetam inconscientemente o desenvolvimento, mas a personalidade também é determinada pelos eventos presentes e pelas aspirações para o futuro. Todos os seres humanos possuem a capacidade de crescer e desenvolver, e esse crescimento é uma parte natural da condição humana; pode-se mudar por meio das capacidades racionais e criativas e também remodelar a sociedade.
Os princípios da personologia: o cérebro, a redução de tensão, o desenvolvimento da personalidade, a personalidade muda e evolui, e a singularidade de cada pessoa.
O primeiro princípio é o de que a personalidade está enraizada no cérebro. A fisiologia cerebral da pessoa controla todos os aspectos da personalidade. Tudo aquilo de que a personalidade depende está no cérebro, inclusive sentimentos, lembranças conscientes e inconscientes, crenças, atitudes, temores e valores.
O segundo princípio envolve a ideia de redução de tensão: é o processo de agir para reduzir tensão que é satisfatório e não o alcance de uma condição livre de toda tensão. Uma existência sem tensões é uma fonte de angustia. Por isso, precisa-se de excitação, atividade e movimento e tudo isso envolve um aumento de tensão. Para ele o estado ideal da natureza humana envolve sempre ter um certo grau de tensão para reduzir. A redução de pressão está relacionada com as metas que não são consideradas como estado livre de tensão, mas a satisfação derivada da ação que reduz a ação.
O terceiro princípio é que a personalidade de um individuo continua se desenvolvendo ao longo dos anos e é composta de todos os eventos que ocorrem no decorrer da sua vida. Portanto, o estudo do passado de uma pessoa é de grande importância.
O quarto princípio envolve a teoria de que a personalidade muda e evolui, não sendo fixa ou estática.
O quinto principio enfatiza a singularidade de cada pessoa e ao mesmo tempo reconhece as similaridades entre todos. Segundo ele, um ser humano nunca é igual a outro, é parecido com algumas pessoas e com todas.

AS DIVISÕES DA PERSONALIDADE – O id, o ego e o superego.
O id é o depósito de todas as tendências impulsivas, inatas, fornecendo energia e rumo para o comportamento e se preocupa com a emoção. O ido contem os impulsos primitivos, amorais e sensuais descritos por Freud, mas no sistema personológico também engloba impulsos inatos que a sociedade considera aceitáveis e desejáveis. O id contem as tendências para empatia, imitação e identificação, para formas de amor além das sensuais e a tendência de a pessoa dominar o seu ambiente. A força ou intensidade do id varia de pessoa para pessoa.
O ego é o regente racional da personalidade, aquele que tenta modificar ou adiar os impulsos inaceitáveis do id, ponderando, decidindo e determinando conscientemente o rumo do comportamento, sendo, assim, mais ativo na determinação do comportamento. por não ser um simples servo do id, o ego conscientemente planeja atitudes, opera não só para reprimir os prazeres do id, mas também para favorecer o prazer organizando e dirigindo a expressão de impulsos aceitáveis do id. Ele também é o árbitro entre o id e o superego, podendo favorecer um dos dois. O ego também pode integrar esses dois aspectos da personalidade para que o que se queira fazer (id) fique em harmonia com o que a sociedade acha que se deve fazer (superego). Um ego forte pode mediar efetivamente entre o id e o superego, mas um ego fraco transforma a personalidade em um campo de batalha.
O superego é a internalização dos valores e das normas culturais, regras segundo as quais se avalia e se julga o comportamento pessoal e dos outros. A essência do superego é imposta às crianças desde pequenas pelos pais e por outras figuras com autoridade. Outros podem moldá-lo e incluem um grupo de amigos, a literatura e a mitologia de uma determinada cultura. O superego não está rigidamente cristalizado aos cinco anos, mas continua se desenvolvendo a vida toda, refletindo a maior complexidade e sofisticação das experiências que se dão até o envelhecimento. Ele se desenvolve junto com o ideal do ego que fornece as metas de longo prazo que se deve buscar.
O ideal do ego é um componente do superego que contem os comportamentos morais e ideais que a pessoa deve buscar, representando aquilo que se pode tornar da melhor forma e sendo a soma das ambições e aspirações humanas.

NECESSIDADES E A MOTIVAÇÃO DO COMPORTAMENTO – Utiliza o conceito de necessidades para explicar a motivação e o rumo do comportamento.
A motivação é o ponto mais importante do trabalho e refere-se sempre a algo dentro do organismo.
Uma necessidade envolve uma força psicoquímica no cérebro que organzia e direciona a capacidade intelectual e a perspectiva.
As necessidades podem surgir de processos internos como fome ou sede, ou de eventos no ambiente. Elas elevam o nível de tensão; o organismo tenta reduzir essa tensão agindo para satisfazer as necessidades. Assim, elas energizam e dirigem o comportamento.
As necessidades ativam o comportamento na direção certa para satisfazê-las. Por isso, o autor preparou um elenco de vinte necessidades que nem todas as pessoas possuem, mas que ao longo da vida podem ser sentidas ou algumas que nunca se sentirá. Algumas delas dão sustentação a outras e algumas se opõem umas as outras. São elas: afiliação, agressão, autonomia, autodefesa, deferência, defesa física, defesa psíquica, discernimento, divertimento, domínio, exibição, humilhação, neutralização, ordem, realização, rejeição, segurança, sensibilidade, sexo e solidariedade.
As necessidades primárias ou viscerogênicas surgem dos processos físicos internos e incluem as necessidades de sobrevivência, como comida, água, ar e defesa física, e de sexo e sensualidade.
As necessidades secundárias ou psicogênicas provêm indiretamente das primárias , não tendo origem determinável no corpo. Elas são chamadas porque se desenvolvem a partir das primárias e preocupam-se com a satisfação emocional incluindo a maioria das necessidades gerais.
As necessidades reativas envolvem uma resposta a algo especifico do ambiente e são estimuladas apenas quando o dito objeto aparece, como a necessidade de defesa física que surge só quando há ameaça presente. Assim, envolvem uma resposta a um objeto específico.
As necessidades proativas são espontâneas, trazendo à tona o comportamento adequado sempre que estimuladas, independente do ambiente sem esperar um estímulo. Surgem espontaneamente.
As características das necessidades: elas diferem em termos de urgência com que impelem o comportamento, denominada de prepotência de uma necessidade. Algumas são complementares e podem ser satisfeitas por um comportamento ou conjunto de comportamentos: fusão de necessidades.
O conceito de subsidiação se refere a uma situação na qual uma necessidade é ativada para ajudar a satisfazer uma outra necessidade. Assim, compreende a situação na qual uma necessidade é ativada para ajudar a satisfazer uma outra necessidade.
A necessidade de deferência é complementar à necessidade à necessidade de afiliação.
A pressão é a influencia dos eventos da infância que podem afetar o desenvolvimento de necessidades específicas e mais tarde podem ativar essas necessidades, porque um objeto ou evento ambiental pressiona a pessoa a agir de uma determinada maneira. É a influência do ambiente e dos eventos passados na ativação atual de uma necessidade.
O Thema ou thema de unidade é a combinação da pressão (o ambiente) e necessidade (a personalidade) que traz ordem ao comportamento. É devido à possibilidade de interação entre a necessidade e a pressão. Ele combina fatores pessoais (necessidades) com fatores ambientais que pressionam ou compelem o comportamento (pressões). É formado nas primeiras experiências infantis e torna-se uma força poderosa na determinação da personalidade. Inconsciente na sua maior parte, ele relaciona as necessidades e pressões num padrão que dá coerência, unidade, ordem e singularidade ao comportamento.

A NATUREZA HUMANA – Murray introduz o conceito de redução de tensão que é considerada como a satisfação derivada da ação que reduz a tensão. Nesse ponto ele coloca a questão do livre-arbítrio versus determinismo, considerando que a personalidade é determinada pels necessidades e pelo ambiente, conferindo livre-arbítrio à capacidade de mudar e crescer: cada pessoa é diferente, mas também existem semelhanças na personalidade de todo ser humano. Ele defende que todos os seres humanos são moldados pelos atributos herdados e pelo ambiente, com mais ou menos grau de influência, aceitando-se o impacto das forças físicas e dos estímulos ambientais físicos, sociais e culturais. Assim, a sua visão é ptimista criticando a psicologia que projeta uma imagem negativa e humilhante dos seres humanos, argumentando que com os poderes amplos de criar, imaginar e racionar, cada um é capaz de solucionar qualquer problema que tenha que enfrentar. Assinala que os complexos da infância afetam inconsciente o desenvolvimento, mas a personalidade é também determinada pelos eventos presentes e pelas aspirações para o futuro. A capacidade de crescer e de se desenvolver é uma parte natural desse crescimento da condição humana, porque se pode mudar por meio das capacidades racionais e criativa e também remodelar a sociedade.

A NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO – É uma necessidade forte em várias pessoas, principalmente em situações estressantes e durante o período de estresse se manifesta tanto nas crianças como nos adultos. As pessoas com alta necessidade de afiliação preferem se comunicar através da internet do que pessoalmente. O ambiente social virtual permite-lhes ser mais honestos, abertos e íntimos com os outros do que a situação cara a cara. Isso sugere que para pessoas com forte necessidade de afiliação, os contatos pela internet podem ser mais satisfatórios e menos ameaçadores do que os contatos reais. A necessidade de realização é a necessidade de superar obstáculos, atingir a excelência e viver bem em nível elevado. Pessoas com alta necessidade de realização têm com mais frequência trabalhos de alto nível. Trabalham duro, têm grande expectativa de sucesso e relatam mais satisfação no trabalho do que as pessoas que têm baixa necessidade de realização. As que têm alta escolhem trabalhos que dão responsabilidade pessoal, nos quais o sucesso depende principalmente de seus próprios esforços e ficam insatisfeitas com trabalhos nos quais o sucesso depende de outras pessoas ou de fatores que estejam fora de seu alcance.
Fatores culturais podem influenciar as necessidades de realização de uma pessoa. Ela é afetada pelas praticas de educação de crianças. O gênero é outro fator que tem impacto sobre a necessidade de realizar.

A PESQUISA NA TEORIA DE MURRAY – O programa de pesquisa envolveu o estudo intensivo da personalidade de estudantes do sexo masculino, realizado por uma equipe multiprofissional. Especialistas com diferentes tipos de treinamento observavam as pessoas utilizando varias técnicas, de maneira muito parecida à elaboração de um diagnóstico médico completo. À medida que os foram se acumulando, o conselho reavalia suas notas a ela com base em diversas variáveis, revisando as informações e chegando à conclusão final. Os dados tiveram de ser divididos em segmentos de tempo, denominados de padrão de conduta e série.
O padrão de conduta é o segmento básico de comportamento e definido como um período de tempo necessário para a ocorrência e conclusão de um padrão de comportamento. envolve uma interação real ou fantasiosa entre o individuo e outras pessoas ou objetos no ambiente. Uma interação imaginária é chamada de padrão de conduta interno. Uma interação real é chamada de padrão de conduta externo.
Os padrões de conduta estão ligados ao tempo e às funções.
Série é a reunião dos padrões de conduta, ou seja, é uma sequencia de padrões de conduta relacionados à mesma função ou propósito.

AVALIAÇÃO NA TEORIA DE MURRAY – As técnicas de avaliação de personalidade utilizam uma série de técnicas para coletar dados, com entrevistas e testes projetivos, objetivos e questionários que cobrem lembranças da infância, relações familiares, desenvolvimento sexual, aprendizagem sensório-motor, padrões éticos, metas, interações sociais e capacidade mecânica e artística.

TESTE DE APERCEPÇÃO TEMÁTICA (TAT) – Criado por Murray e Morgan, continua sendo uma das medições projetivas da personalidade mais utilizadas. É composto de um conjunto de figuras ambíguas ilustrando cenas simples. Pede-se à pessoa que está se submetendo ao teste que crie uma história, descreva as pessoas, os objetos da figura, incluindo o que pode ter levado à situação e o que eles estão pensando e sentindo. É técnica projetiva baseada no mecanismo de defesa da projeção que foi introduzido por Freud. Na projeção a pessoa atribui impulsos perturbadores a outras pessoas, ou seja, os projeta no TAT os sentimentos nos personagens das figuras, revelando ao pesquisador ou ao terapeuta as ideias que a perturbam. É um instrumento para avaliar ideias, sentimentos e temores inconscientes. Interpretar as respostas às figuras é um processo subjetivo, podendo revelar informações extremamente úteis e devem ser utilizadas para complementar dados de métodos mais objetivos.

O PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DO OSS – Foi um programação de avaliação para o Departamento de Serviços Estratégicos norte-americano (OSS), durante a II Guerra Mundial, com a meta de selecionar pessoas que servissem de espiãs e sabotadoras, trabalhando por trás das linhas inimigas em situações perigosas. Os candidatos foram entrevistados e passaram por testes projetos de Rorschach e TAT e responderam a questionários que cobriam uma série de tópicos. Além disso, participaram de testes envolvendo situações estressantes que simulavam experiências com as quais eles poderiam se deparar no trabalho. Essa tentativa pioneira de selecionar funcionários por meio de uma avaliação de grande escala da personalidade evoluiu para a bem-sucedida abordagem do centro de avaliação, amplamente utilizada nas empresas de hoje em dia para selecionar líderes e executivos promissores. O programa do OSS é um ótimo exemplo da aplicação prática das técnicas de avaliação originalmente destinadas somente à pesquisa.

INFLUÊNCIAS – Influenciado por Carl Gustav Jung, teve um grave problema pessoal: apaixonou-se por Christina Morgan, uma mulher casada, bonita, rica e depressiva que também era impressionada com a obra de Jung e possuía sonhos e visões bizarras. Murray não queria largar a esposa com quem estava casado havia sete anos – ele dizia que abominava a ideia de se divorciar, mas também não queria desistir da amante, cuja natureza espirituosa e artística era o oposto da natureza de sua esposa; ele insistia que precisava das duas. Viveu esse conflito por dois anos, quando por sugestão dela, foi se encontrar com Jung, resolvendo o problema por meio da instrução e do exemplo. Envolveram-se no caso os dois casais: a esposa e o marido da amante, resolvendo o problema.

REFERÊNCIAS
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.


Veja mais da Infância na teoria de Murray aqui, aqui e aqui.