sábado, 30 de maio de 2015

PSICODRAMA & ROLE-PLAYING


ROLE-PLAYING – É uma técnica que pode ser usada para a exploração e para a expansão do eu num universo desconhecido. O conceito fundamental desta abordagem é o reconhecimento de que o homem é um role-player – ou seja, um intérprete de papéis -, de que todo o individuo é caracterizado pro certo leque de papéis que domina seu comportamento e de que toda cultura é caracterizada por certo conjunto de papéis impostos, com grau variado de sucesso, a seus membros. As técnicas são uma metodologia que capacita comparar cada um dos métodos terapêuticos sob condição de controle.
Role-player (em alemão Rollenspieler), significa a interpretação de papéis e é a adoção de um papel acabado, plenamente estabelecido, que não permite ao individuo nenhuma variação, qualquer grau de liberdade, o que permite ao individuo um certo grau de liberdade. Um papel é composto de duas partes: o seu denominador coletivo e o seu diferencial individual.
As primeiras experiências com as técnicas de role-playing aconteceram durante os testes feitos com terapeutas auxiliares colocados no contexto de situações padrão, num psicodrama experimental.
Nas situações terapêuticas pode-se concentrar primeiramente no estudo dos quatro fatores, demonstrando a importância crucial em todos os relacionamentos paciente-terapeuta: sentimentos um em relação ao outro, percepção um do outro, eventos motrizes, a interação entre eles e as relações de papéis, que emergem de um para o outro numa situação terapêutica em andamento. Como terapia de papéis objetiva melhorar as relações entre membros de determinado grupo. Cada membro pode assumir novo papel e esta situação influencia com frequência os resultados do próximo teste sociometrico, modificando a posição do individuo que, de outro modo, continuaria isolado e desajustado. Assim o role-playing torna-se treinamento e terapia de papéis.
O teste de espontaneidade é o segundo teste que satisfaz as exigências para o role-playing, uma vez que coloca o individuo em situação-padrão de vida que requer relações emocionais fundamentais e definidas, chamadas de estados de espontaneidade, tais como o medo, a raiva, entre outros. Se houver possibilidade de expansão, o próximo passo é o role-playing. Quando um instrutor de espontaneidade reconhece que o aluno ou paciente tem carência em certos estados, por exemplo, coragem, alegria, entre outros, coloca-o numa situação específica em que estes estados são inadequados ou aconselháveis. O aluno ou paciente representa esta situação, teatraliza de improviso o estado. Se é coragem que lhe falta, ele representa coragem até que aprenda a ser corajoso.

INFÂNCIA – Em vez de considerar a criança do ponto de vista dos organismos inferiores, tentando interpretá-la como um pequeno animal, em termos de psicologia animal, e em vez de tentar interpretá-lo como um pequeno neurótico ou pequeno selvagem, pelo ângulo neurótico, é pertinente encarar sistematicamente o bebê humano desde a plataforma dos mais elevados exemplos concretos de expressão e realização humana – referindo-se aqui ao gênio da raça -, interpretando-o como um gênio em potencial. Pressupõe-se aqui que, nos gênios da raça, certas capacidades e aptidões básicas latentes, comuns a todos os homens, encontram sua mais dramática expressão. Sua natural e continua espontaneidade e criatividade, não só em raros momentos mas como uma expressão cotidiana, fornece indícios para compreender a criança que não podem ser desprezados.
Uma criança de 2 a 3 anos de idade talvez não entenda quando um dos pais lhe diz algo que não deveria fazer. Para a criança certas coisas ditas não têm sentido e permanecem sem causar impressão. Tem-se, com isso, que se lembrar que a criança tem sua memoria no ato e não na memória, o rápido esquecimento de acidentes é uma condição natural, mas pode-se ensiná-la no ato.
Por um acidente da natureza, parece que o bebê humano nasce nove meses depois da concepção. Poderia nascer muitos meses depois e o recém-nascido poderia vir ao mundo quase preparado para cuidar de si mesmo, à semelhança de alguns recém-nascidos entre outros vertebrados. Por conseguinte, a soma de ajuda de que necessita para sobreviver tem de ser muito maior e mais prolongada que no caso de qualquer outro da classe primata.
A criança jamais deixa de lado suas expectativas de tornar-se o centro e o ditador do mundo. Poderá tornar-se mais humilde à medida que for envelhecendo e aprender que o universo tem uma teimosa estrutura particular., que lhe é impossível de penetrar e de conquistar contando apenas com métodos mágicos. A criança fará qualquer jogo – o jogo do método científico ou qualquer melhoria futura do mesmo – se isto ajuda-lo circunstancialmente a conseguir a realização de sua intensão profunda de permanecer para sempre em contato com a existência, de ser toda-poderosa, imortal e de, pelo menos, ex post facto, verificar no fim dos tempos as palavras do Gênese: “No começo era Deus, criador do mundo”, invertendo o vetor da flecha do passado para o futuro, do Deus fora de si para o homem em seu interior.
Toda criança tem uma droga miraculosa a seu dispor, prescrita para ela pela própria natureza, Megalomania Normalis. Repita-se a dose.
As crianças usam intuitivamente e quando é empregado consciente e sistematicamente para o propósito de treinamento, chama-se role-playing que se define como personificar outras formas de existência por meio do jogo. É uma forma especializada de jogo. Foi a técnica fundamental do Teatro da Espontaneidade vienense, devido ao papel predominante que a espontaneidade e a criatividade. É um provável método por excelência para encontrar e, se possível, solucionar aquela situação que desafia a criança. Os pais desempenhando o papel de um cão ou de um gato, leva as crianças a entender esses animais, conversar com eles, incorporá-los. O desempenho de um papel é a personificação de uma forma, de uma existência estranha através da brincadeira, é uma forma especial de brincar.
Depois de finda a fase do role-playing dos pais e de outros adultos na casa, e de haver adquirido habilidade considerável, introduz-se outro método particularmente recompensador – a técnica da inversão de papel. Se uma pessoa faz o papel de um médico, de um policial ou de um vendedor, a parte do pai ou da mãe, a fim de aprender de que modo funcionar dentro de tais papéis, tal técnica chama-se de role-playing. Mas se o pai ou mãe trocar de papeis, o pai sendo o filho e o filho o pai, trata-se de uma inversão de papéis.
Grupos de crianças separam-se dos grupos de adultos a partir dos 6 ou 7 anos de idade – é uma divisão social. Essa é a fase que coincide com o inicio da fase escolar.
A imaginação do homem não deixará de lado a eterna criança que existe nele, descobrindo novos modos de preencher o universo com seres fantásticos, mesmo que precise criá-los. A eterna criança no homem não fugirá de sua força imaginativa.

SOCIODRAMA – O sociodrama está introduzindo uma nova abordagem dos problemas antropológicos e culturais, métodos de ação profunda e de verificação experimental. O conceito subjacente nesta abordagem é o reconhecimento de que o homem é um intérprete de papéis que dominam o seu comportamento e que toda e qualquer cultura é caracterizada por um certo conjunto de papéis que ela impõe com variável grau de êxito, aos seus membros.
O vocábulo sociodrama tem duas raízes: socius que significa sócio, o outro individuo, e drama, que significa ação. Sociodrama é a ação em beneficio de outro individuo, de outra pessoa. O verdadeiro sujeito do sociodrama é o grupo. Não está limitado por um numero especial de indivíduos, pode consistir em tantas pessoas quantos os seres humanos que vivem em qualquer lugar ou, pelo menos, quantos pertençam à mesma cultura.
A diferença entre psicodrama e sociodrama deve ser ampliada a todo tipo de psicoterapia de grupo. Também deveria ser feita uma diferença entre o tipo individual de psicoterapia de grupo e o tipo coletivo de psicoterapia de grupo. O tipo individual é centrado no individuo. Focaliza a sua atenão em cada individuo na situação, nos indivíduos que compõem o grupo e não no grupo em geral. O tipo coletivo de terapia de grupo está centado neste. Focaliza a situação nos denominadores coletivos e não está interessado nas diferrenças individuais ou problemas privados que eles apresentam.
Trabalhadores sociodramáticos tem a tarefa de organizar encontros preventivos, didáticos e de reconstrução na comunidade. O agente de ação ingressa no grupo acompanhado por equipe de egos-auxiliares, se necessário, com a mesma determinação, audácia ou violência de um líder nazista ou sindical. O encontro pode transformar-se em ação tão chocante e entusiástica quanto aquelas de natureza politica, com a diferença de que os políticos tentam submeter as massas a seus esquemas, enquanto o sociodramatista conduzi-las ao máximo de realização, expressão e análise de grupos.

O TREINAMENTO DE PAPÉIS – É um método utilizado pelo teatro da espontaneidade de Viena, nbo qual a espontaneidade e a criatividade tomam uma posição importante. Também é denominado de treinamento de papéis espontâneo-criativo que consiste em colocar os indivíduos (atores) em diversas situações, em papéis estranhos a eles mesmos e às suas vidas.  O jogo de papéis pode ser utilizado como método para pesquisar mundos desconhecidos ou para a expansão do eu.

REFERÊNCIAS
CUKIER, Rosa. Palavras de Jacob Levy Moreno: vocabulário de citações do psicodrama, da psicoterapia de grupo, do sociodrama e da sociometria. São Paulo: Ágora. 2002.
FLEURY, Heloisa; KHOURI, Georges; HUG, Edward. Psicodrama e Neurociência: contribuição para a mudança terapêutica. São Paulo: Ágora, 2008.
GERSHONI, Jacob (Org.). Psicodrama no século 21: aplicações clínicas e educacionais. São Paulo: Ágora, 2008.
GONÇALVES, Camila (Org.). Psicodrama com crianças: uma psicoterapia possível. São Paulo: Ágora, 1988.
KNOBEL, Anna Maria. Moreno em ato: a construção do psicodrama a partir das práticas. São Paulo: Ágora,2004.
MORENO, Jacob Levy. O teatro da espontaneidade. São Paulo: Summus, 1984.
______. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 1978.
PAÏN, S.; JARREAU, G. Teoria e técnica da arte-terapia: a compreensão do sujeito. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
RICOTTA, Luisa Cristina. Cadernos de psicodrama: edição e desenvolvimento. São Paulo: Ágora, 1991.


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segunda-feira, 25 de maio de 2015

PSICOPATOLOGIA & ALTERAÇÕES DE AFETIVIDADE


AFETIVIDADE – Segundo Dalgalarrondo (2008), a vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivencias humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia e sem sabor.
Já segundo Paim (1993) é a capacidade de experimentar sentimentos e emoções. É o estado de animo ou humor como disposição afetiva fundamental, rica em todas as instancias emocionais e vitais, que dá a cada um dos estados de animo uma tonalidade entre dois polos, um patético e outro apático.
Distinguem-se cinco tipos básicos de vivências afetivas: humor ou estado de animo, emoções, sentimentos, afetos e paixões.

HUMOR OU ESTADO DE ÂNIMO – O humor, para Paim (1993), consiste na soma total dos sentimentos presentes na consciência em dado momento. O estado afetivo fundamentais do individuo (alegria, bem-estar, jubilo, felicidade, inquietação, angustia, tristeza, desespero) depende inteiramente das circunstancias pessoas da vida, dos desejos, inclinações e especialmente do estado de sua saúde física.

EMOÇÕES – Para Dalgalarrondo (2008), as emoções podem ser definidas como reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos. Assim, a emoção é um estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como a reação do individuo a certas excitações internas ou externas, conscientes ou inconscientes.
Assinala Paim (1993) que a emoção é um estado afetivo intenso e complexo, proveniente de uma reação ao mesmo tempo psíquica e orgânica do individuo inteiro contra certas excitações internas ou externas.

SENTIMENTOS – Os sentimentos, segundo Dalgalarrondo (2008), estão comumente associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e, em geral, não implicam concomitantes somáticos. Constituem fenômeno muito mais mental que somático.
Para Paim (1993) o sentimento é um estado afetivo atenuado, estável, duradouro e organizado com maior riqueza e complexidade do que os elementos representativos.
Os sentimentos da esfera da tristeza são melancolia, saudade, tristeza, nostalgia, vergonha, impotência, aflição, culpa, remorso, autodepreciação, autopiedade, sentimento de inferioridade, infelicidade, tédio, esperança, entre outros.
Os sentimentos da esfera da alegria são euforia, jubilo, contentamento, satisfação, confiança, gratificação, esperança, expectativa, entre outros.
Sentimentos da esfera da agressividade são raiva, revolta, rancor, ciúme, ódio, ira, inveja, vingança, repúdio, nojo, desprezo, etc.
Os sentimentos relacionados à atração pelo outro são amor, atração, tesão, estima, carinho, etre outros.
Os sentimentos associados ao perigo são temor, receio, desamparo, abandono, rejeição, etc.
Os sentimentos do tipo narcísico são vaidade, orgulho, arrogância, onipotência, superioridade, empáfia, prepotência, etc.

AFETOS – Para Dalgalarrondo (2008), define-se afeto como a qualidade e o tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental. Os afetos acoplam-se a ideias, anexando a elas um colorido afetivo. Seriam o componente emocional de uma ideia.

PAIXÕES – A paixão, segundo Dalgalarrondo (2008), é um estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do individuo em uma só direção. A paixão intensa impede o exercício de uma logica imparcial.

ALTERAÇÕES DA AFETIVIDADE – Para Paim (1993) as alterações da afetividade são hipertimia, hipotimia, apatia ou indiferença afetiva, sentimento de falta de sentimento, sentimento de insuficiência, sentimentos sem objeto, sentimentos inadequados, qualidades novas dos sentimentos, pânico, sentimentos de presença, irritabilidade patológica, tenacidade afetiva, instabilidade afetiva, incontinência emocional, sugestibilidade patológica, puerilismo, moria, angustia, ambivalência afetiva e fobias.

HIPERTIMIA – Para Paim (1993) a hipertimia ou estado de animo morbidamente elevado, distinguem-se a euforia e a exaltação afetiva patológica. A euforia simples traduz por um estado de completa satisfação e felicidade na qual vefiicam-se elevação do estado de animo, aceleração do curso do pensamento, loquacidade, vivacidade da mímica facial, aumento da gesticulação, riso fácil e logorreia. A euforia simples é observada nos indivíduos predispostos constitucionalmente e, em sua forma pura, na fase maníaca, nos estados hipomaníacos, na embriaguez alcoolica, na demência senil.
Na exaltação patologia há não só euforia como também aumento da convicção do próprio valor e das aspirações. Vai acompanhada de aceleração do curso do pensamento que pode chegar à fuga de ideias, desviabilidade da atenção e certa facilidade para passar rapidamente do pensamento à ação. A instabilidade afetiva desses enfermos se traduz pelça extrema facilidade com que eles passam da euforia à tristeza ou à cólera. O estado de animo é o da distimia expansiva. Nos estados de exaltação patologia os enfermos dão a impressão de mais jovens, há aumento do turgor vitalis, manifestação de apetite voraz e de excitação sexual, insônia, grande facilidade dos movimentos expressivos e tendência irresistível à ação.

HIPOTIMIA – Na hipotimia ou depressão patológica, segundo Paim (1993), verifica-se o aumento da reatividade para os sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o simples mal-estar até o estupor melancólico. Caracteriza-se essencialmente por uma tristeza profunda e imotivada, que se acompanha de lentidão e inibição de todos os processos psíquicos.

APATIA OU INDIFERENÇA AFETIVA – Segundo Paim (1993) a afetividade está completamente abolida, não se observando nunca em nenhum transtorno psicótico. Entretanto, a diminuição dos moveis afetivos é um sintoma constante em varias enfermidades mentais. Observações revelaram que nesta enfermidade não existe embotamento afetivo, ao contrario, as alterações são devidas aqui a um transtorno da coordenação entre sentimentos e pensamento. É uma alteração qualitativa dos processos afetivos tornando os sentimentos dos esquizofrênicos inadequados e inteiramente incompreensíveis para as pessoas normais. Indiferença afetiva e uma completa ausência de sensibilidade moral são observadas em certas personalidades anormais, especialmente naqueles indivíduos identificados como insensíveis.

SENTIMENTO DE FALTA DE SENTIMENTO – Anota Paim (1993) tratar-se da situação em que os enfermos se queixam de que não experimentam sentimentos de espécie alguma, de que não sentem animo para participar de festas ou de qualquer tipo de distração.

SENTIMENTO DE INSUFICIENCIA – Nesses casos, Paim (1993) aborda que os enfermos deprimidos manifestação alterações dos sentimentos no sentido de uma espécie de sentimento de insuficiência, que os incapacita para a pratica de qualquer ação. Trata-se de uma incapacidade real, motivada pelo transtorno primário da afetividade.

SENTIMENTOS SEM OBJETO - Paim (1993) afirma que ocasionam profundo sentimentos aos pacientes, notadamente nas depressões endógenas nas quais pode-se verificar uma espécie de angustia indeterminada, que não se encontra ligada a nenhum fator real, denominada de angustia flutuante.

SENTIMENTOS INADEQUADOS – são acontecimento que, segundo Paim (1993), normalmente produzem reação intensa em indivíduos sãos, podendo ocasionar uma reação paradoxal. Os fatos podem ser acompanhados da mais completa indiferença ou de fatos banais que provocam intensas reações afetivas. É a inadequação dos sentimentos denominada de dissociação afetiva, admitindo-se se tratar de um sintoma primário da esquizofrenia.

QUALIDADES NOVAS DOS SENTIMENTOS – Anota Paim (1993) que o enfermo revela sentimentos e estados de animo qualitativamente novos, na maioria das vezes indefinidos e incompreensíveis. Os pacientes fazem referencias a sentimentos de pavor, de desespero, de solidão, de desprezo social ou sentimentos de beatitude e de iluminação divina.

PÂNICO - Dalgalarrondo (2008) define como medo intenso, de pavor relacionada geralmente ao perigo imaginário de morte iminente, descontrole ou desintegração. O pânico se manifesta sempre como crise de pânico. Estas são crises agudas e intensas de ansiedade, acompanhadas por medo intenso de morrer ou de perder o controle e de acentuada descarga autonômica (taquicardia, sudorese, etc.).
Segundo Paim (1993) consiste numa vivência de extraordinária repercussão psiquica tão intensa em certos casos que se tem tentado denomina-la de reação neurótica de pânico.

SENTIMENTOS DE PRESENÇA – Para Paim (1993) o enfermo tem a certeza imediata de que alguém está ao seu lado, atrás dele, sente a presença de alguém que nunca é visto, porém está certo de que está próximo ou se afasta.

IRRITABILIDADE PATOLOGICA – Anota Paim (1993) que é a predisposição especial ao desgosto, à ira e ao furor, nos quais os enfermos manifestam impaciência, irritabilidade, aumento da capacidade de reação para determinados estímulos e intolerância pelos ruídos. Nas personalidades anormais explosivas, o sintoma principal é a irritabilidade patológica.

TENACIDADE AFETIVA – Para Paim (1993), consiste na persistência anormal de certos estados afetivos, como ressentimento, o ódio e o rancor.

INSTABILIDADE AFETIVA – Entende Paim (1993) que é o estado especial em que se produz a mudança rápida e imotivada do humor, sempre acompanhada de extraordinária intensidade da reação afetiva, que se processa com duração muito limitada.

INCONTINÊNCIA EMOCIONAL - Paim (1993) assinala que é uma forma de alteração da afetividade que se manifesta pela facilidade com que se produzem as reações afetivas, acompanhadas de certo grau de incapacidade para inibi-las.

SUGESTIBILIDADE PATOLOGICA – Anota Paim (1993) que se trata de uma alteração da ordem tanto afetiva quanto volitiva, sendo uma predisposição psíquica especial que determina uma receptividade e uma submissão muito fáceis às influencias estranhas exercidas sobre o individuo.

PUERILISMO - Paim (1993) indica que é o temo empregado para designar as alterações mentais caracterizadas pela regressão da personalidade adulta ao nível de comportamento infantil. Em consequência, o enfermo adota inconscientemente as atitudes, linguagem e o estado de animo de uma criança.

MORIA – É o estado que, segundo Paim (1993), é dado com excitação alegre associado a certo puerilismo mental. Nesses casos os enfermos fazem bufonarias, caretas, não permanecem quietos um só instante, o humor é altamente instável, tornam-se cada vez mais exuberantes, loquazes, riem às gargalhadas.

ANGÚSTIA – Para Paim (1993) é o sentimento frequente e torturante, sem objeto, quando os processos do conhecimento que a precedem são frequentemente muito mais vagos e indiferenciados, características que correspondem a estratos psiquicos mais primitivos.

AMBIVALENCIA AFETIVA – Anota Paim (1993) que é a fala do amor e temor ou ódio que uma pessoa pode ter em relação a outra, dos acontecimentos que se tem e são desejados, como uma operação, a tomada de posse de um cargo.

FOBIAS – Para Paim (1993) é um temor insensato, obsessivo e angustiante que certos doentes sentem em determinadas situações e consiste no temor patológico que escapa à razão e resiste a qualquer espécie de objeção. É o temor obsessivo aos espaços abertos (agorafobia), ou fechados (claustrofobia), aos contatos humanos ou com animais (cães, ratos), temor de atravessar ruas, de subir ou descer elevadores, de lugares altos, etc.

CATATIMIA – Para Dalgalarrondo (2008) é a importante influencia que a vida afetiva, o estado de humor, as emoções, os sentimentos e as paixões exercem sobre as demais funções psíquicas.

REFERÊNCIAS
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PAIM, Isaías. Curso de psicopatologia. São Paulo: EPU, 1993.


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sexta-feira, 22 de maio de 2015

A APRENDIZAGEM OBSERVACIONAL DE ALBERT BANDURA


ALBERT BANDURA – Albert Bandura nasceu em 1925, na província de Alberta, Canadá. Muito jovem foi trabalhar com construções no deserto, tapando buracos numa rodovia, resultando essa experiência como fascinante. Frequentou a universidade e fez o curso de psicologia por conveniência, obtendo o seu Ph. D, em 1952. Entre seus livros mais importantes cabe citar: Principles of Behavior Modification (1969); Aggression: A Social Learning Analysis (1973); Social Leaning Theory (1977); Thought and Action (1985) y Self-Efficacy: The Exercise of Control (1997).

APRENDIZAGEM – A abordagem de Bandura é uma teoria de aprendizagem social, que investiga o comportamento como adquirido e modificado num contexto social.
A aprendizagem observacional indica a importante no processo da observação do comportamento de outras pessoas, considerando aprender através de reforço vicariante, ou seja, observando-se o comportamento de outras e as consequências dele. Esse enfoque na aprendizagem se dá por meio de observação ou exemplos. Trata-se, portanto, do aprendizado de novas respostas por meio de observação do comportamento de outras pessoas. Outra característica é o tratamento de processos cognitivos internos ou de pensamento, considerando que se aprende, mediante exemplos e reforços vicariantes, pela capacidade de antecipar e estimar as consequências dos comportamentos observados. Enfatiza a observação dos outros como um meio de aprendizagem, a qual considera ser mediada por processos cognitivos.
O reforço vicariante é o aprendizado ou fortalecimento de um comportamento por meio da observação do comportamento de outras pessoas e das consequências de tal comportamento, em vez de experimentação direta do reforço ou das consequências.
A aprendizagem ativa é aprender, fazendo e experimentando as conseqüências da ação.
A aprendizagem indireta é aprender, observando os outros.
A aprendizagem por observação se dá por intermédio de reforço indireto: recompensa ou punição de outrem, pela expectativa de ser reforçado pelo domínio e pela identificação com o modelo admirado ou de status elevado. Os processos componentes que estão por trás do aprendizado pela observação são: a atenção, incluindo os eventos apresentados (clareza, valência afetiva, complexidade, freqüência, valor funcional) e as características do observador (capacidades sensoriais, nível de atenção despertada, conjunto de percepção, reforço anterior); a retenção, incluindo codificação simbólica, organização cognitiva, ensaio simbólico, ensaio motor); a reprodução motora, incluindo capacidades físicas, auto-observação da reprodução, exatidão do retorno; a motivação, incluindo reforço externo, indireto e próprio controle dos próprios reforçadores).

MODELAGEM – é a base da aprendizagem de observação, entendendo que a maior parte dos comportamentos humanos é aprendida por meio de exemplos, seja intencional ou acidentalmente. Aprende-se a observar as outras pessoas modelando o comportamento pelo delas. A modelagem é a observação do comportamento de um modelo e repetido, adquirindo respostas que nunca se desempenhou ou apresentou anteriormente, e reforçar ou enfraquecer as existentes. É a demonstração de modelagem que utiliza um boneco joão-bobo plástico e inflável que mede um pouco mais de um metro de altura. Trata-se, portanto, de uma técnica da modificação de comportamento que envolve observar o comportamento de outros chamados modelos e com eles tomar parte no desempenho do comportamento desejado. Ela é influenciada por características: dos modelos, dos observadores e as consequências recompensadoras associadas aos comportamentos.
As características dos modelos influenciam as tendências a imitá-los. Essa imitação é afetada pela idade e pelo sexo. Outro fator importante é o status. É na extensão da imitação que o modelo influencia. Os comportamentos altamente complexos não são imitados tão pronta ou imediatamente quanto os mais simples. Os comportamentos hostis e agressivos tendem a ser imitados com mais vigor, especialmente por crianças: as crianças tendem a imitar o comportamento de um modelo adulto do mesmo sexo, que consideram ter um status superior.
As características dos observadores: os atributos dos observadores determinam a eficácia da aprendizagem de observação. As pessoas com autoconfiança e autoestima baixas são mais propensas a imitar o comportamento de um modelo do que aquelas com autoconfiança e autoestima altas.
As consequências recompensadoras associadas aos comportamentos: influenciam a extensão da modelagem e até mesmo anular o impacto das características dos modelos e dos observadores. Um modelo de elevado status pode levar a imitação de um determinado comportamento, mas, se as recompensas não tiverem significado, interrompe-se o comportamento e será menos propenso a influencia por aquele modelo no futuro.
Enfim, a modelagem é a mudança no comportamento, pensamento, ou emoções que ocorrem por meio da observação de uma outra pessoa - um modelo.

DESINIBIÇÃO – Trata-se do modelo que influencia na supressão ou inibição de comportamentos. É o enfraquecimento de inibições ou constrangimento por meio da observação do comportamento de um modelo, que influencia, inclusive, o comportamento sexual. .

OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DE OBSERVAÇÃO – A aprendizagem de observação é governada por quatro mecanismos relacionados entre si: processos de atenção, de retenção, de produção e motivacionais e de incentivos.
Os processos de atenção variam em função das habilidades cognitivas e de percepção dos observadores e do valor do comportamento que está sendo modelado. Não haverá aprendizagem de observação ou modelagem a não aser que o individuo esteja atento ao modelo. A simples exposição do individuo ao modelo não garante que ele estará atento às pistas e aos estímulos relevantes ou mesmo que perceberá a situação acuradamente. O individuo tem de perceber o modelo com precisão para adquirir a informação necessária para imitar o comportamento do modelo. Esses processos desenvolvem a cognição e a habilidade de percepção de tal força que se possa prestar atenção suficiente a um modelo e percebê-lo com a precisão necessária para imitar o comportamento apresentado.
Os processos de retenção guaram ou lembram do comportamento do modelo de modo que se possa imita-lo ou repeti-lo mais adiante; para isso, usa-se os processos cognitivos para codificar ou formar imagens mentais e descrições verbais do comportamento do modelo.
Os processos de produção transpõem as representações simbólicas das imagens mentais ou verbais do comportamento do modelo para o próprio comportamento observável, produzindo corporal ou fisicamente as respostas e recebendo feedbacks sobre a precisão da pratica continuada.
Os processos motivacionais e de incentivo percebem que o comportamento do modelo leva a uma recompensa e assim esperar que a aprendizagem e desempenho bem-sucedido do mesmo comportamento levará a consequências semelhantes.

AUTORREFORÇO – É a administração de recompensas ou punições a si mesmo por satisfazer, superar ou frustrar as próprias expectativas ou padrões. Estabelece padrões pessoais de comportamento e realizações.

AUTOEFICÁCIA – É o sentimento de adequação, eficácia e competência para se lidar com a vida. As experiências vicariantes, ou seja, ver outras pessoas apresentarem bom desempenho, fortalecem a autoeficácia, particularmente se as pessoas que observa-se são semelhantes em capacidade. Algumas condições aumentam a auoeficácia: expor as pessoas a experiências bem-sucedidas estabelecendo objetivos alcançáveis aumenta o desempenho satisfatório; expor as pessoas aos modelos adequados que são bem-sucedidos realça as experiências vicariantes de sucesso; oferecer persuasão verbal incentiva as pessoas a acreditar que possuem habilidade para um desempenho satisfatório; fortalecer a estimulação fisiológica por meio de dieta apropriada, redução de estresse e programas de exercícios aumenta a força, a resistência e a capacidade de lidar com as situações. Assim, a auto-eficácia é o senso de uma pessoa de ser capaz de lidar efetivamente com uma tarefa particular

ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE MODELAGEM E AUTOEFICÁCIA – Na infância a modelagem limita-se a imitação direta.
Na adolescência as experiências de transição implicam lidar com novas demandas e pressões, desde um maior interesse sexual até a escolha da faculdade ou seguir uma carreira. Os adolescentes precisam estabelecer novas competências e avaliações para suas habilidades.
A vida adulta é dividida em dois períodos: adulta jovem e meia-idade. A adulta jovem compreende adaptações como casamento, paternidade e ascensão profissional, sendo necessária elevada autoeficácia para que as experiências apresentem resultados positivos. Os anos da meia-idade são estressantes,por reavaliação de carreira e de vida familiar e social. Ao se defrontar com as limitações, ocorrem redefinições de objetivos e reavaliação das aptidões para encontrar novas oportunidades para melhor a autoeficácia.
As reavaliações na velhice são difíceis, o declínio das capacidades mental e física, a aposentadoria e o afastamento da vida social podem exigir autoavaliação.

MODIFICAÇÕES DO COMPORTAMENTO – Concentra-se em aspectos externos, nos comportamentos inadequados ou destrutivos, é o comportamento ou o sintoma o alvo da abordagem da aprendizagem social.
Se a modelagem é a forma como originariamente aprende-se os comportamentos, deve ser um modo eficaz de reaprender ou modificar o comportamento.
Uma técnica denominada participação guiada implica assistir a um modelo vivo e depois participar com ele.
Na modelação encoberta as pessoas são instruídas a imaginar um modelo lidando com uma situação temida ou ameaçadora; elas não veem, realmente, um modelo. A modelação encoberta vem sendo utilizada para tratar fobias de cobras e inibições sociais.
Vários comportamentos podem ser modificados por meio da abordagem de modelagem. Existem dois exemplos: medo de tratamento médico e ansiedade frente a testes. Algumas pessoas têm tanto medo de situações medicas que são impedidas de buscar tratamento. Utilizam-se procedimentos para reduzir o medo de hospitalização e de tratamento dental em adultos.
A ansiedade frente a testes é tão séria que o desempenho em exames não reflete com precisão o conhecimento da matéria em avaliação.
As técnicas de modificação de comportamento provocaram criticas por parte de educadores, políticos e psicólogos, sugerindo que explora as pessoas, manipulando-as e controlando-as contra a sua vontade. Porém, ela não ocorre sem o conhecimento do cliente. Sendo a autoconsciência e a autorregulação vitais para eficácia de qualquer programa de modificação ou reaprendizado de comportamento.
O determinismo recíproco é o conceito de que o comportamento é controlado pelo individuo, por meio de processos cognitivos e pelo ambiente, por meio de eventos de estimulo social externo.
A reciprocidade triádica é o conceito de que o comportamento é determinado pela interação de variáveis comportamentais, cognitivas ou situacionais.

CONCLUSÃO – A aquisição de conhecimento ou aprendizagem e desempenho observável baseado naquele conhecimento (comportamento), enfatizando a importância da observação e da modelagem dos comportamentos, atitudes e respostas emocionais dos outros. Considera: eventos ambientais (recursos, conseqüências de ações e ambiente físico), pessoais (crenças, expectativas, atitudes e conhecimento) e comportamentos (atos individuais, escolhas e declarações verbais) interagem no processo de aprendizagem denominado de determinismo recíproco: "O aprendizado seria excessivamente trabalhoso, para não mencionar perigosos, se as pessoas dependessem somente dos efeitos de suas próprias ações para informá-las sobre o que fazer. Por sorte, a maior parte do comportamento humano é aprendido pela observação através da modelagem. Pela observação dos outros, uma pessoa forma uma idéia de como novos comportamentos são executados e, em ocasiões posteriores, esta informação codificada serve como um guia para a ação".
A autorregulação e modificação cognitiva do comportamento considera: o automanejo, ou seja, programa de mudança de comportamento básico (estabelecimento de objetivos, observação de seu próprio trabalho, manutenção de registros e avaliação do próprio desempenho, seleção e liberação de reforço), estabelecimento de objetivos específicos, tornando-os públicos, registro e avaliação de progresso através de mapa, diário, listagem com a freqüência ou duração dos comportamentos em questão; e auto-reforço.
A autoinstrução e modificação cognitiva do comportamento: é um modelo adulto realiza uma tarefa enquanto fala consigo mesmo em voz alta (modelagem cognitiva). O âmbito da aplicação envolve a compreensão das desordens agressivas (Bandura, 1973) e psicológicas, em especial no contexto da modificação do comportamento (Bandura, 1969); técnica de modelagem de comportamento que é muito usada em programas de treinamento.
Os princípios reguladores são: o nível mais alto de aprendizado de observação é alcançado, primeiro, organizando e ensaiando o comportamento-modelo de modo simbólico e, depois, representando-o publicamente. A codificação de um comportamento modelado em palavras, rótulos ou imagens, resulta em retenção mais eficiente do que aquela proporcionada pela observação; é mais provável que os indivíduos adotem um comportamento como modelo se ele produzir resultados que eles valorizam; é mais provável que os indivíduos adotem um comportamento como modelo, se o modelo for parecido com o observador.
A modificação cognitiva do comportamento ocorre por meio de procedimentos baseados nos princípios comportamentais e cognitivos de aprendizagem para mudar seu próprio comportamento, usando fala privada e autoinstrução.

REFERÊNCIAS
ATKINSON, Richard; HILGARD, Ernest; ATKINSON, Rita; BEM, Daryl; HOEKSENA, Susan. Introdução à Psicologia. São Paulo: Cengage, 2011.
BANDURA, Albert; AZZI, Roberta; POLYDORO, Soely (Orgs.). Teoria social cognitiva: conceitos básicos. Porto Alegre: Artmed, 2008.
BOCK, A.M et al.  Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001
DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
GAZZANIGA, Michael; HEATHERTON, Todd. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MORRIS, Charles; MAISTO, Alberto. Introdução à psicologia. São Paulo: Pretence Hall, 2004.
MYERS, David. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Historia da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
______. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
WOOLFOLK, Anita. Psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.


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quinta-feira, 21 de maio de 2015

A TEORIA DO CONSTRUCTO PESSOAL DE GEORGE KELLY


A VIDA DE GEORGE KELLY (1905-1967)– Nasceu numa fazenda no Kansas, Estados Unidos. Seus pais eram fundamentalistas religiosos, fornecendo uma educação irregular, razão pela qual o seu futuro era incerto: trabalhou como engenheiro e depois como professor lecionando oratória e cursos de cidadania para imigrantes. Pos-graduou-se em sociologia educacional e, anos depois, ganhou uma bolsa de estudos na Escócia e tornou-se bacharel em educação, passando a interessar-se pela psicologia, pela qual doutorou-se obtendo o seu Ph.D.

A TEORIA DO CONSTRUCTO PESSOAL – Trata da descrição de personalidade em termos de processos cognitivos, defendendo que todo ser humano é capaz de interpretar comportamentos e eventos utilizando-se dessa compreensão para orientar o comportamento e prever o comportamento de outras pessoas. Para ele, a interpretação dos eventos é mais importantes do que os eventos propriamente ditos: as pessoas são formas de movimento impulsionadas pelas próprias, nada nem ninguém faz o que efeito. As pessoas agem da mesma forma que os cientistas: elaboram teorias e hipóteses, testam diante da realidade por meio de experimentos e caso os resultados sustentem a teoria, ela é mantida; se os dados não a sustentarem, ela terá de ser descartada ou modificada e retestada.
Todo ser humano formula uma teoria denominada de constructo pessoal, por meio do qual tenta-se prever e controlar os eventos da vida e que para entender a personalidade de alguém é necessário analisar seus constructos pessoais.
Um constructo é a maneira singular de um individuo ver a vida, uma hipótese intelectual elaborada para explicar e interpretar eventos. Assim sendo, são hipóteses elaboradas e utilizadas para explicar os eventos da vida, sendo bipolares ou dicotômicos.
A capacidade de lidar com situações novas, ou seja, a adaptabilidade a situações novas é denominada de alternativismo construtivo, permitindo a visão de não há controle humano pelos constructos e que, na verdade, todo ser humano é livre para revê-los ou substituí-los por constructos alternativos. Assim sendo, o alternativismo construtivo é a ideia que todo ser humano é livre para rever ou substituir seus constructos por outros alternativos.
A base dessas ideias está no fato de os processos psicológicos são dirigidos pelas maneiras que o ser humano antecipa os eventos.
Os corolários da teoria do constructo pessoal: construção, individualidade, organização, dicotomia, escolha, extensão, experiência, modulação, fragmentação, similaridade e sociabilidade.
O corolário da construção se dá pelo fato de os eventos repetidos serem semelhantes, pode-se prever ou antecipar como será experimentado no futuro. Ou seja, semelhanças entre eventos repetidos.
O corolário da individualidade: as pessoas compreendem os eventos de formas diferentes. Diferenças individuais na interpretação dos eventos.
O corolário organização: a organização dos constructos se dá por meio de padrões, de acordo com a visão de suas semelhanças ou diferenças. As relações entre os constructos.
O corolário da dicotomia: os constructos são bipolares. São duas alternativas mutuamente exclusivas: todos os constructos são bipolares ou dicotômicos. É preciso que sejam assim para que se possa antecipar os eventos corretamente.
O corolário da escolha: a escolha de cada consctructo está na alternativa do que parecer melhor, aquela que permite prever os resultados de enventos antecipados. A liberdade de escolha.
O corolário da extensão: os constructos podem aplicar-se a muitas situações ou pessoas ou limitar-se a uma única pessoa ou situação. A dimensão da conveniência: um grau de conveniciência ou aplicabilidade limitada, ou seja, a dimensão ou grau de conveniência é o espectro de eventos aos quais um constructo pode ser aplicado. Alguns são relevantes para um numero limitado de pessoas ou situação, e outros são mais amplos.
O corolário da experiência: testa-se continuamente os constructos nas experiências da vida para certidão de que permanecem válidos. Exposição a novas experiências.
O corolário da moludação: pode-se modificar os constructos em função de novas experiências. Os constructos diferente quanto à sua permeabilidade que é a ideia de que os constructos podem ser revistos e ampliados à luz das novas experiências.
O corolário da fragmentação: pode-se às vezes ter constructos subordinados contraditórios ou incoerentes na base do sistema geral de constructos. A competição entre os constructos.
O corolário da similaridade: as pessoas em grupos ou culturas compatíveis podem apresentar constructos semelhantes. Semelhanças entre as pessoas na interpretação de eventos.
O corolário da sociabilidade: é a tentativa de entender como as pessoas pensam e predizer o que farão e, conforme for, modificar o comportamento. relações interpessoais: cada um assumo um papel diferente com relação aos outros.

AVALIAÇÃO E PESQUISA – A técnica fundamental de avaliação era a entrevista. Uma outra técnica utilizada para avaliar um sistema de constructos é o esboço de autocaracterização, ou seja, técnica para avaliar um sintoma de constructos de uma pessoa: como ela percebe a si mesma em relação a outras pessoas.
O teste de repertorio do constructo de papel (REP Teste) era utilizado para revelar os constructos empregados pelas pessoas importantes da vida de cada um.
A terapia do papel fixo é a técnica psicoterapêutica na qual o cliente representa constructos adequados a uma pessoa fictícia, mostrando-se ao cliente com os novos constructos pode se tornar mais eficazes que os antigos que ele utilizava.
A complexidade cognitiva é o estilo ou modo de interpretar o ambiente caracterizado pela capacidade de perceber diferenças entre as pessoas.
A simplicidade cognitiva é o estilo ou modo de interpretar o ambiente caracterizado por uma relativa incapacidade de enxergar diferenças entre as pessoas.

REFERÊNCIAS
ATKINSON, Richard; HILGARD, Ernest; ATKINSON, Rita; BEM, Daryl; HOEKSENA, Susan. Introdução à Psicologia. São Paulo: Cengage, 2011.
BOCK, A.M et al.  Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001
DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
GAZZANIGA, Michael; HEATHERTON, Todd. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MORRIS, Charles; MAISTO, Alberto. Introdução à psicologia. São Paulo: Pretence Hall, 2004.
MYERS, David. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Historia da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
______. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.


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quarta-feira, 20 de maio de 2015

A TEORIA DA PERSONALIDADE, DE GORDON ALLPORT


A VIDA – Gordon Allport (1897-1967) nasceu em Montezuma, Indiana, caçula de quatro filhos. Seu pai que estudava Medicina, estava numa situação difícil contrabandeando drogas do Canadá para Baltimore, tendo de fugir da polícia e retornar para sua cidade para abrir uma clinica particular. A mãe era uma devotada religiosa que dominava a família, severa, com forte senso do que é certo ou errado, rigorosa em seus ideais morais. Ainda criança, Allport se isolou de outras crianças fora da família, inventando o seu próprio circulo de atividades, pois que não se dava bem com seus irmãos que não gostavam dele, esforçando-se para ser o centro das atenções com seus poucos amigos. Foi daí que ele propôs a sua teoria da personalidade baseada no fato de que os ecologicamente saudáveis não são afetados por eventos da infância. A partir das suas condições de isolamento e rejeição na infância, ele desenvolveu sentimentos de inferioridade compensando com luta para se sobressair, buscando a identidade resultante desse sentimento. Na idade adulta, ele continuou a se sentir inferior em relação ao seu irmão mais velho, com cujas realizações tentava rivalizar, vez que ele obteve Ph.D em Psicologia e tornou-se um famoso profissional, tornando-o a sombra de seu irmão. Para afirmar sua individualidade, ele afirmava seus interesses eram independentes dos sentimento na infância, formalizando a ideia com o conceito de autonomia funcional. Formou-se e se encontrou com Freud num momento constrangedor de silencio e sob a nomeação de que ele possuía uma personalidade compulsiva. Abalado com esse fato, o encontro foi traumático, passando a dar mais atenção ao consciente ou às motivações visíveis.

A PERSONALIDADE – Para Allport, a personalidade é uma organização dinâmica, dentro do individuo, dos sistemas psicofísicos que determinam comportamento e pensamentos característicos. Essa organização dinâmica sinaliza que a personalidade estando sempre mudando e crescendo, esse crescimento é organizado e não aleatorio. Na questão psicofísica, a personalidade é composta de mente e corpo atuando juntos como uma unidade. Todas as facetas da personalidade ativam ou orientam comportamentos e ideais específicas, significando que tudo o que se pensa e faz é característico ou típico da pessoa e que cada pessoa é diferente.

HEREDITARIEDADE E AMBIENTE – Enfatizando a singularidade da personalidade, ele afirma que a hereditariedade fornece a matéria prima da personalidade, como o físico, a inteligência e o temperamento, podendo ser moldada, ampliada ou limitada pelas condições do ambiente, demonstrando a importância da genética e aprendizagem. E que essa dotação genética é responsável pela maior parte da singularidade e interage com o ambiente social. Com isso ele considerava que a personalidade pode ser distinta ou descontinua. E que existem duas personalidades: uma para a infância e outra para a idade adulta. A personalidade adulta não é limitada pelas experiências da infância. Ao enfatizar o consciente e não o inconsciente, o presente e o futuro, e não o passado, reconheceu a singularidade da personalidade optando por estudar a personalidade normal.

TRAÇO DE PERSONALIDADE – São reais e existem em cada ser humano, não são constructos teóricos criados para explicar comportamentos. Os traçados determinam ou causam o comportamento. Os traços podem ser demonstrados empiricamente. São inter-relacionados e variam de acordo com a situação. Enfim, traços são características diferenciadas que regem o comportamento e são medidos num continuum, estando sujeitos a influencias sociais, ambientais e culturais. Esses traços podem ser individuais, que são peculiares da pessoa e definem o seu caráter; e os comuns, que são compartilhados por uma serie de indivíduos, como os membros de uma cultura.

DISPOSIÇÕES PESSOAIS – São traços peculiares à pessoa, o contrário dos traços compartilhados por uma série de pessoas.
Um traço cardinal é tão penetrante e influente que afeta que todos os aspectos da vida, mais difundidos e poderosos.
Os traços centrais são aqueles temas que melhor descrevem o comportamento humano, como agressividade, autopiedade e cinismo. Esses traços são uma serie de traços especiais que descreve o comportamento de uma pessoa.
Os traços secundários são menos importantes que uma pessoa pode apresentar tênue ou inconscientemente.
O comportamento expressivo é um comportamento espontâneo e aparentemente sem proposito, geralmente exibido sem se estar ciente disso.
O comportamento instrumental é aquele conscientemente planejado pelas necessidades de uma dada situação e elaborado para uma certa finalidade, geralmente para provocar mudanças no ambiente.

HÁBITOS E ATITUDES – Os hábitos são respostas especificas e inflexíveis a determinados estímulos. Vários hábitos podem se combinar para formar um traço.
As atitudes são semelhantes aos traços, mas elas tem objetos de referencia especificos e envolvem avaliações positivas ou negativas, levando as pessoas a gostar ou odiar, aceitar ou rejeitar, ser a favor ou contra, entre outras.

MOTIVAÇÃO – Considerou Allport que é o estado atual da pessoa que é importante, uma vez que planos e interações conscientes que são processos cognitivos são um aspecto vital para a personalidade. As intenções deliberadas são uma parte essencial da personalidade: o que se quer e aqui que se luta são chaves para entender-se o comportamento.
A autonomia funcional dos motivos: os motivos dos adultos maduros e emocionalmente saudáveis traz a ideia de que os motivos no adulto normal e maduro são independentes das experiências da infância nas quais eles originalmente surgiram.
A autonomia funcional persevrativa: é o nível mais elementar, está voltada para comportamentos como vícios e ações físicas repetitivas como formas costumeiras de executar tarefas diárias. Assim, trata-se do grau de autonomia funcional relacionada a comportamentos de nível inferior ou rotineiros.
A autonomia funcional do proprium: é fundamental para a compreensão da motivação adulta, uma vez é derivada do proprium que é o ego ou o self, sendo, portanto, o grau de autonomia funcional associado aos valores, o que se gosta de fazer e o que se faz bem. O proprium inclui os aspectos da personalidade que são distintos e próprios da vida emocional. Esses aspectos são peculiares a cada um e unem as atitudes, percepções e intenções.
O funcionamento autônomo é um processo de organização que mantem o senso de self e determina a forma como se percebe o mundo, o que se lembra das experiências e a direção que se toma na vida. Esses processos perceptivos e cognitivos são seletivos, selecionam apenas os motivais que são relevantes aos interesses e valores da massa de estímulos existente no ambiente. Esse processo de organização é regido por três princípios: organização do nível de energia, domínio e competência, e padronização autônoma.
A organização do nível de energia explica a aquisição dos novos motivos que surgem de uma necessidade para ajudar a consumir o excesso de energia que poderia ser expressa de formas destrutivas ou prejudiciais.
Domínio e competência refere-se ao nível em que se decide satisfazer os motivos.
Padronização autônoma descreve uma luta pela coerência e integração da personalidade.

FASES DE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE – São identificadas sete fases que compreendem a infância até a adolescência, denominada de desenvolvimento do proprium.
A fase do eu corporal surge durante os primeiros três anos, quando as crianças ficam cientes da sua existência e distinguem o seu próprio corpo dos objetos do ambiente.
A fase do Self-Identify ocorre quando as crianças percebem que sua identidade permanece intacta apesar das várias mudanças que estão ocorrendo.
A fase da autoestima é quando as crianças aprendem a ter orgulho das suas realizações.
A fase de extensão do eu, surge no período entre o quarto e o sexto ano, quando as crianças passam a reconhecer os objetos e pessoas que fazem parte do seu mundo.
A fase da autoimagem ocorre quando as crianças elaboram uma imagem real e uma outra idealista de si mesmas e do seu comportamento e ficam cientes do fato de satisfazerem ou não as expectativas do pai.
A fase do self como uma solução racional é a fase que ocorre durante as idades de 6 a 12 anos, quando as crianças começam a aplicar a razão e alógica à solução dos problemas cotidianos.
A fase da luta pela autonomia ocorre durante a adolescência, os jovens começam a traçar metas e planos de longo prazo.
Idade adulta quando os adultos normais e maduros são funcionamento autônomos, independente dos motivos da infância. Eles funcionam racionalmente no presente e criam conscientemente os seus próprios estilos de vida.

A PERSONALIDADE ADULTA SAUDÁVEL – O adulto maduro estende o seu senso de self para as pessoas e as atividades além do self. Relaciona-se carinhosamente com as outras pessoas, exibindo intimidade, compaixão e tolerância. A autoaceitação do adulto maduro o ajuda a obter segurança emocional. Tem uma percepção realista da vida, desenvolve habilidades pessoais e se compromete com algum tipo de trabalho; conserva um senso de humor e objetivação do self (compreensão ou insight do próprio self)/ adota uma filosofia de vida unificadora, que é responsável pela condução da personalidade na direção de metas futuras.

CONCLUSÃO – Allport divergiu da Psicanalise de Freud, não aceitando a teoria de que forças inconscientes dominavam a personalidade de adultos normais e maduros; acreditava que pessoas emocionalmente saudáveis agem de forma racional, consciente, cientes e controlando várias das forças que as motivam. Para ele, o inconsciente só é importante no comportamento neurótico ou problemático, alegando que todo ser humano é guiado pelo presente e pela visão do futuro, ocupado em conduzir sua vida para o futuro. Também se opôs a coletar dados de pessoas emocionalmente perturbadas, vendo uma clara diferença: a personalidade anormal age num nível infantil. A única maneira correta de estudar a personalidade seria coletar dados de adultos emocionalmente saudáveis. Entendia que não há semelhanças funcionais na personalidade de crianças e adultos, pessoas normais e anormais ou animais e humanos. Ele dá ênfase na singularidade da personalidade de acordo com o definido pelos traços de cada pessoa, particulares e específicos de cada individuo.

REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
ATKINSON, Richard; HILGARD, Ernest; ATKINSON, Rita; BEM, Daryl; HOEKSENA, Susan. Introdução à Psicologia. São Paulo: Cengage, 2011.
BOCK, A.M et al.  Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001
DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001.
GAZZANIGA, Michael; HEATHERTON, Todd. Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005.
LAPLANCHE; Jonh; PONTALIS, J. B. Vocabulário de psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
MEZAN, Renato. Interfaces da psicanálise. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2002.
MORRIS, Charles; MAISTO, Alberto. Introdução à psicologia. São Paulo: Pretence Hall, 2004.
MYERS, David. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney. Historia da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
______. Teorias da personalidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
ZIMERMAN, David. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artemd, 2008.
______. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica, clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
______. Manual de técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 2004.


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