quarta-feira, 20 de maio de 2015

A TEORIA DA PERSONALIDADE, DE GORDON ALLPORT


A VIDA – Gordon Allport (1897-1967) nasceu em Montezuma, Indiana, caçula de quatro filhos. Seu pai que estudava Medicina, estava numa situação difícil contrabandeando drogas do Canadá para Baltimore, tendo de fugir da polícia e retornar para sua cidade para abrir uma clinica particular. A mãe era uma devotada religiosa que dominava a família, severa, com forte senso do que é certo ou errado, rigorosa em seus ideais morais. Ainda criança, Allport se isolou de outras crianças fora da família, inventando o seu próprio circulo de atividades, pois que não se dava bem com seus irmãos que não gostavam dele, esforçando-se para ser o centro das atenções com seus poucos amigos. Foi daí que ele propôs a sua teoria da personalidade baseada no fato de que os ecologicamente saudáveis não são afetados por eventos da infância. A partir das suas condições de isolamento e rejeição na infância, ele desenvolveu sentimentos de inferioridade compensando com luta para se sobressair, buscando a identidade resultante desse sentimento. Na idade adulta, ele continuou a se sentir inferior em relação ao seu irmão mais velho, com cujas realizações tentava rivalizar, vez que ele obteve Ph.D em Psicologia e tornou-se um famoso profissional, tornando-o a sombra de seu irmão. Para afirmar sua individualidade, ele afirmava seus interesses eram independentes dos sentimento na infância, formalizando a ideia com o conceito de autonomia funcional. Formou-se e se encontrou com Freud num momento constrangedor de silencio e sob a nomeação de que ele possuía uma personalidade compulsiva. Abalado com esse fato, o encontro foi traumático, passando a dar mais atenção ao consciente ou às motivações visíveis.

A PERSONALIDADE – Para Allport, a personalidade é uma organização dinâmica, dentro do individuo, dos sistemas psicofísicos que determinam comportamento e pensamentos característicos. Essa organização dinâmica sinaliza que a personalidade estando sempre mudando e crescendo, esse crescimento é organizado e não aleatorio. Na questão psicofísica, a personalidade é composta de mente e corpo atuando juntos como uma unidade. Todas as facetas da personalidade ativam ou orientam comportamentos e ideais específicas, significando que tudo o que se pensa e faz é característico ou típico da pessoa e que cada pessoa é diferente.

HEREDITARIEDADE E AMBIENTE – Enfatizando a singularidade da personalidade, ele afirma que a hereditariedade fornece a matéria prima da personalidade, como o físico, a inteligência e o temperamento, podendo ser moldada, ampliada ou limitada pelas condições do ambiente, demonstrando a importância da genética e aprendizagem. E que essa dotação genética é responsável pela maior parte da singularidade e interage com o ambiente social. Com isso ele considerava que a personalidade pode ser distinta ou descontinua. E que existem duas personalidades: uma para a infância e outra para a idade adulta. A personalidade adulta não é limitada pelas experiências da infância. Ao enfatizar o consciente e não o inconsciente, o presente e o futuro, e não o passado, reconheceu a singularidade da personalidade optando por estudar a personalidade normal.

TRAÇO DE PERSONALIDADE – São reais e existem em cada ser humano, não são constructos teóricos criados para explicar comportamentos. Os traçados determinam ou causam o comportamento. Os traços podem ser demonstrados empiricamente. São inter-relacionados e variam de acordo com a situação. Enfim, traços são características diferenciadas que regem o comportamento e são medidos num continuum, estando sujeitos a influencias sociais, ambientais e culturais. Esses traços podem ser individuais, que são peculiares da pessoa e definem o seu caráter; e os comuns, que são compartilhados por uma serie de indivíduos, como os membros de uma cultura.

DISPOSIÇÕES PESSOAIS – São traços peculiares à pessoa, o contrário dos traços compartilhados por uma série de pessoas.
Um traço cardinal é tão penetrante e influente que afeta que todos os aspectos da vida, mais difundidos e poderosos.
Os traços centrais são aqueles temas que melhor descrevem o comportamento humano, como agressividade, autopiedade e cinismo. Esses traços são uma serie de traços especiais que descreve o comportamento de uma pessoa.
Os traços secundários são menos importantes que uma pessoa pode apresentar tênue ou inconscientemente.
O comportamento expressivo é um comportamento espontâneo e aparentemente sem proposito, geralmente exibido sem se estar ciente disso.
O comportamento instrumental é aquele conscientemente planejado pelas necessidades de uma dada situação e elaborado para uma certa finalidade, geralmente para provocar mudanças no ambiente.

HÁBITOS E ATITUDES – Os hábitos são respostas especificas e inflexíveis a determinados estímulos. Vários hábitos podem se combinar para formar um traço.
As atitudes são semelhantes aos traços, mas elas tem objetos de referencia especificos e envolvem avaliações positivas ou negativas, levando as pessoas a gostar ou odiar, aceitar ou rejeitar, ser a favor ou contra, entre outras.

MOTIVAÇÃO – Considerou Allport que é o estado atual da pessoa que é importante, uma vez que planos e interações conscientes que são processos cognitivos são um aspecto vital para a personalidade. As intenções deliberadas são uma parte essencial da personalidade: o que se quer e aqui que se luta são chaves para entender-se o comportamento.
A autonomia funcional dos motivos: os motivos dos adultos maduros e emocionalmente saudáveis traz a ideia de que os motivos no adulto normal e maduro são independentes das experiências da infância nas quais eles originalmente surgiram.
A autonomia funcional persevrativa: é o nível mais elementar, está voltada para comportamentos como vícios e ações físicas repetitivas como formas costumeiras de executar tarefas diárias. Assim, trata-se do grau de autonomia funcional relacionada a comportamentos de nível inferior ou rotineiros.
A autonomia funcional do proprium: é fundamental para a compreensão da motivação adulta, uma vez é derivada do proprium que é o ego ou o self, sendo, portanto, o grau de autonomia funcional associado aos valores, o que se gosta de fazer e o que se faz bem. O proprium inclui os aspectos da personalidade que são distintos e próprios da vida emocional. Esses aspectos são peculiares a cada um e unem as atitudes, percepções e intenções.
O funcionamento autônomo é um processo de organização que mantem o senso de self e determina a forma como se percebe o mundo, o que se lembra das experiências e a direção que se toma na vida. Esses processos perceptivos e cognitivos são seletivos, selecionam apenas os motivais que são relevantes aos interesses e valores da massa de estímulos existente no ambiente. Esse processo de organização é regido por três princípios: organização do nível de energia, domínio e competência, e padronização autônoma.
A organização do nível de energia explica a aquisição dos novos motivos que surgem de uma necessidade para ajudar a consumir o excesso de energia que poderia ser expressa de formas destrutivas ou prejudiciais.
Domínio e competência refere-se ao nível em que se decide satisfazer os motivos.
Padronização autônoma descreve uma luta pela coerência e integração da personalidade.

FASES DE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE – São identificadas sete fases que compreendem a infância até a adolescência, denominada de desenvolvimento do proprium.
A fase do eu corporal surge durante os primeiros três anos, quando as crianças ficam cientes da sua existência e distinguem o seu próprio corpo dos objetos do ambiente.
A fase do Self-Identify ocorre quando as crianças percebem que sua identidade permanece intacta apesar das várias mudanças que estão ocorrendo.
A fase da autoestima é quando as crianças aprendem a ter orgulho das suas realizações.
A fase de extensão do eu, surge no período entre o quarto e o sexto ano, quando as crianças passam a reconhecer os objetos e pessoas que fazem parte do seu mundo.
A fase da autoimagem ocorre quando as crianças elaboram uma imagem real e uma outra idealista de si mesmas e do seu comportamento e ficam cientes do fato de satisfazerem ou não as expectativas do pai.
A fase do self como uma solução racional é a fase que ocorre durante as idades de 6 a 12 anos, quando as crianças começam a aplicar a razão e alógica à solução dos problemas cotidianos.
A fase da luta pela autonomia ocorre durante a adolescência, os jovens começam a traçar metas e planos de longo prazo.
Idade adulta quando os adultos normais e maduros são funcionamento autônomos, independente dos motivos da infância. Eles funcionam racionalmente no presente e criam conscientemente os seus próprios estilos de vida.

A PERSONALIDADE ADULTA SAUDÁVEL – O adulto maduro estende o seu senso de self para as pessoas e as atividades além do self. Relaciona-se carinhosamente com as outras pessoas, exibindo intimidade, compaixão e tolerância. A autoaceitação do adulto maduro o ajuda a obter segurança emocional. Tem uma percepção realista da vida, desenvolve habilidades pessoais e se compromete com algum tipo de trabalho; conserva um senso de humor e objetivação do self (compreensão ou insight do próprio self)/ adota uma filosofia de vida unificadora, que é responsável pela condução da personalidade na direção de metas futuras.

CONCLUSÃO – Allport divergiu da Psicanalise de Freud, não aceitando a teoria de que forças inconscientes dominavam a personalidade de adultos normais e maduros; acreditava que pessoas emocionalmente saudáveis agem de forma racional, consciente, cientes e controlando várias das forças que as motivam. Para ele, o inconsciente só é importante no comportamento neurótico ou problemático, alegando que todo ser humano é guiado pelo presente e pela visão do futuro, ocupado em conduzir sua vida para o futuro. Também se opôs a coletar dados de pessoas emocionalmente perturbadas, vendo uma clara diferença: a personalidade anormal age num nível infantil. A única maneira correta de estudar a personalidade seria coletar dados de adultos emocionalmente saudáveis. Entendia que não há semelhanças funcionais na personalidade de crianças e adultos, pessoas normais e anormais ou animais e humanos. Ele dá ênfase na singularidade da personalidade de acordo com o definido pelos traços de cada pessoa, particulares e específicos de cada individuo.

REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
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