quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A FAMÍLIA, DE JACQUES LACAN


A família surge-nos como um grupo natural de indivíduos unidos por uma dupla relação biológica: por um lado a geração, que dá as componentes do grupo; por outro as condições de meio que postula o desenvolvimento dos jovens e que mantêm o grupo, enquanto os adultos geradores asseguram essa função. Nas espécies animais, esta função dá lugar a comportamentos instintivos, muitas vezes bastante complexos. Foi preciso renunciar a fazer derivar das relações familiares assim definidas os outros fenômenos sociais observados nos animais. Estes últimos aparecem pelo contrário tão distintos dos instintos familiares que os investigadores mais recentes relacionam-nos com um instinto original, dito de interatração. A espécie humana caracteriza-se por um desenvolvimento singular das relações sociais, que sustêm capacidades excepcionais de comunicação mental, e correlativamente por uma economia paradoxal dos instintos que aí se mostram essencialmente susceptíveis de conversão e de inversão não tendo efeito isolável senão de modo esporádico. São assim permitidos comportamentos adaptativos duma variedade infinita. A sua conservação e o seu progresso, por dependerem da sua comunicação, são antes de tudo obra coletiva e constituem a cultura; ela introduz uma nova dimensão na realidade social e na vida psíquica. Esta dimensão especifica a família humana tal como todos os fenômenos sociais no homem. Se, com efeito, a família humana permite observar, nas primeiras fases das funções maternais, por exemplo, alguns traços de comportamento instintivo, identificáveis aos da família biológica, basta refletir no que o sentimento da paternidade deve aos postulados espirituais que marcaram o seu desenvolvimento, para compreender que neste domínio as instâncias culturais dominam as naturais, ao ponto de não se poder ter como paradoxais os casos em Será esta estrutura cultural da família humana inteiramente acessível aos métodos da psicologia concreta: observação e análise? Sem dúvida estes métodos bastam para pôr em evidência alguns traços essenciais, tal como a estrutura hierárquica da família, e bastam para reconhecer nela o órgão privilegiado desta coação do adulto sobre a criança, coação à qual o homem deve uma etapa original e as bases arcaicas da sua formação moral [...].

A FAMÍLIA – O ensaio A família, do psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), trata da instituição familiar, a sua estrutura cultural, coação do adulto sobre a criança, hereditariedade psicológica, parentesco biológico, a família primitiva, o complexo como fator concreto da psicologia familiar, definição geral do complexo, o instinto, o complexo freudiano e a imago, complexo do desmame e este como ablactação, o desmame e a crise do psiquismo, a imago do seio materno, a forma exteroceptiva, satisfação proprioceptiva, mal-estar interoceptivo, a imago pré-natal, o desmame e a prematuração específica do nascimento, o apetite da morte, o laço domestico, a nostalgia do todo, o complexo da intrusão, o ciúme como arquétipo dos sentimentos sociais, identificação mental, a imago do semelhante, o sentido da agressividade primordial, o estádio do espelho, potência segunda da imagem especular, estrutura narcísica do eu, o drama do ciúme, o eu e o outrem, condições de fraternidade, complexo de Édipo, esquema e valor objetivo do complexo, a família segundo Freud, o complexo da castração, o mito parricida originário, as funções do complexo, maturação da sexualidade, constituição da realidade e a repressão da sexualidade, os fantasma do desmembramento, origem materna do super-eu arcaico, originalidade da identificação edipiana, a imago do pai, o complexo e a relatividade sociológica, matriarcado e patriarcado, abertura do vínculo social, o homem moderno e a família conjugal, papel de formação familiar, declínio da imago paterna, os complexos familiares em patologia, as psicoses de tema familiar, formas delirantes do conhecimento, funções dos complexos nos delírios, reações e temas familiares, determinismo da psicose, as nevroses familiares, sintoma nevrótico e drama individual, da expressão do recalcado à defesa contra a angustica, deformações específicas da realidade humana, a forma degrada de Édipo, nevroses de Transfert, a histeria, a nevrose obsessiva, incidência individual das causas familiares, neuroses de caráter, a nevrose de autopunição, a introversão da personalidade e esquizonoia, desarmonia do par parental, prevalência do complexo do desmame e a inversão da sexualidade.


REFERÊNCIA
LACAN, Jacques. A família. Lisboa: Assírio e Alvin, 1981.

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